Douglas Wires nasceu em 1971, é casado e mora atualmente no Rio de Janeiro, atuando no mercado de turismo desde 1995. Fluente em inglês, é emissor Amadeus e Sabre de passagens aéreas nacionais e internacionais. Trabalhou em empresas como: VARIG, OCEANAIR e CARLSON WAGONLIT, adquirindo sólidos conhecimentos e experiência em cálculos de tarifas aéreas, supervisão de reservas e negociação de serviços de viagens.

REPORTAGENS DE TURISMO FINANCIADAS PELAS FONTES

Você sabia que a maioria das reportagens de turismo anunciadas nos cadernos de turismo da imprensa são custeadas pelas fontes, redes hoteleiras, companhias aéreas, governos, prefeituras ou agências de viagens?


A consultoria de um agente de viagens pode ser muito mais significativa para um turista visitar um certo lugar do que a de um jornalista. Agentes de viagens recebem o feedback de seus clientes que os contam o que foi bom e ruim nas suas viagens. Os comentários de lixo, poluição, violência, insegurança são também de seus conhecimentos. Já os jornalistas só não os omitem quando o caso não tem como ser abafado devido a repercução internacional de certos fatos, como os “arrastões na praia de Copacabana”.


O maior jornal do país, a Folha, enche seu suplemento Turismo com essas reportagens pagas pelos interessados. A linha aérea alemã Lufthansa leva repórter (Alcino Leite Neto) e fotógrafo (Lalo de Almeida) para contarem como é maravilhosa a Expo 2000 de Hanôver. No Jornal do Brasil, Martha Neiva Moreira vai a Londres sem passar pelo caixa da British Airways. No Estadão, Mitsi Goulias exalta as maravilhas de Oslo com mordomias pagas pela companhia de cruzeiros Norwegian Cruise Line e pela agência de turismo Sailaway. Até para deslocar-se a Arraial do Cabo, no litoral fluminense, o grande jornal paulista aceita ter sua repórter Gláucia Leal financiada pela TurisRio e pela agência Trilhas do Mar.


E assim o leitor é iludido por relatos sedutores para os lugares onde os jornalistas passearam, dormiram, comeram e beberam de graça. Diga-se o que se disser, inclusive que a viagem foi paga pela fonte, como é moda se informar no rodapé, só há uma palavra para resumir esta atitude: suborno.


Nesse aspécto, o modelo americano é ignorado. Desde os anos 70, quando o escambo viagem por notícia foi questionado, jornais cobrem as despesas de seus jornalistas segundo o sistema se-eu-gasto-eu-pago. Não há hipótese de um jornal da elite da mídia de notícias dos Estados Unidos mandar um profissional fazer uma reportagem com as despesas cobertas pelo hotel que vai recomendar aos leitores. Pagar a viagem é ponto de honra no New York Times, no Washington Post, no Los Angeles Times, no Philadelphia Inquirer, no Boston Globe.


As viagens financiadas pelas fontes geram vários problemas, entre eles:
  1. Quem paga, e suborna o jornal, ganha divulgação gratuita no caderno de turismo;
  2. Reportagens que o jornal jamais faria às suas expensas, por serem caras, resplendem nas páginas só porque foram ofertadas pelas fontes;
  3. Viagens curtas e baratas, que o jornal poderia pagar sem comprometer seu borderô, passam a ser feitas com patrocínio. (Em 2/5, o Estadão publicou um relato de Moacir Assunção sobre “Ribeirão Pires, o oásis da Grande São Paulo”. A cidade-dormitório fica a quarenta minutos de carro da sede do jornal, mas, para tamanho esforço de reportagem, foi aceito o patrocínio da agência Jovem Tur e da Prefeitura de Ribeirão Pires);
  4. Jornalistas convidados recebem tratamento especial nos vôos, hotéis e passeios, e divulgam essa especialidade em seus textos;
  5. A advertência de que o “repórter viajou a convite...” não isenta o jornal de manter-se independente perante as fontes. É a estampilha de honestidade que sela a maracutaia.
Os grandes jornais brasileiros faturam em média meio bilhão de reais por ano, e portanto podem pagar as viagens de seus repórteres. Se não pagam é porque estão acostumados a um jornalismo arcaico. Porém, ainda hoje, jornais e jornalistas acham que podem fazer escambo com as fontes, utilizando-se do argumento de que uma viagenzinha nas asas da Gratistur não lhes tira a objetividade. Continua a valer uma opinião dada por David Shaw, crítico de mídia do jornal Los Angeles Times: “Eu não sei como é que alguém pode pensar que você vai escrever uma história honesta sobre Bora-Bora quando tem uma pessoa pagando cinco mil dólares para levar você até lá.”




Fonte:
Instituto Gutenberg
Boletim Nº 34
Série eletrônicaSetembro-Outubro de 2000

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